Amo porque é doce, porque é sólido, porque camufla na timidez a escalada do selvagem –– rasga bicho entre as frestas de frases baixas, explodindo nas pausas os galhos das tantas sinapses. Pensa fundo e fala lento. É quase silencioso. Escolhe as palavras, toma tempo. Não corre. Quando corre, voa. Rema com os ventos léguas em fibra de carbono. É peixe por cima d’água: encosta as pernas no aquático e desliza suas asas sobre o teto do mar. E o fulgor do sol treme em sua pele, clama pelas gaivotas, tartarugas ouvem seu chamado. Ele racha o dia ao meio e escoa fim de tarde.
Amo porque me engole sem pressa, mastiga, lambe, chupa até o caroço e sorri meus fiapos entre seus dentes matutinos. Eu, mochila portátil acoplada ao seu peito, pulo saltitos de criança adulta, abano o rabo enquanto derramo córregos esquecidos ou nunca despertos.
É a torre mais alta, farol guia para navios imensos, estrada do mar. Vulcão em erupção, ele queima. Eu lava, escorro por sua rocha e torno seu ventre em pedra, furacão dos sentidos. Ele projétil, afunda e se espalha. Eu fecho os olhos e entrego tudo, depois lembro de abri-los de novo para não perder a terra à vista, oásis dos sonhos, paraíso que me disseram só existir nas utopias. Mas ele tá aqui, ao alcance do pulo e eu me jogo, quico na brandura de seus músculos densos e amor terno, gravata de seda, sapato de couro para o traje que a gente combinou com o Leon para aquele dia. No nosso altar só tem sim.