Saturday, September 28, 2024

Parisiense

Tudo é muito novo. Só eu que não sou. Conheço isso aqui na palma da mão, mas nada mais é o mesmo. Todo dia um buraco novo para eu enfiar a ponta da bengala. As ruas descaracterizadas por essa gringalhada sem elegância, um vai e vem de gente feia. Paris se vendeu. Os donos de restaurante, as padarias, livrarias, mercados, tudo para gringo ver. Quem mandou? Maldita globalização. Bom era quando o mundo era grande, cada um na sua. Hoje não tem mais distância entre as coisas. As pessoas não sabem mais o seu lugar. É por isso que eu sempre fui a favor da guerra. Mesmo porque o planeta precisa de morte, acidente natural, desastre, essa humanidade tá perdida. E pior que o tal do futuro que tanto falavam não deu as caras, só esse trenzinho elétrico aí que eles chamam de modernidade. Essa hora já era para ter carro voando, gente se teletransportando, viagem à Marte, mas não, o que tem é essa mistura de línguas mal faladas, jogadas em gritos de bocas sujas, desconjuntadas, uma confusão só. A pior poluição dessa cidade é a sonora. O mundo ruiu mesmo. Chamam esse barulho de música. Ninguém respeita mais nada.