No caminho,
mil pedrinhas. Meus pés correm em pisadas fundas, batucada em chão de areia. O dia é lindo. À frente pedras coloridas, grandes
e pequenas de todos formatos atravancam meu caminho. Elas passarão, eu
passarinho, diria Drummond. Mas não quero desvio nem atalho, não fujo de
suas pontadas secas, piso sob todas que se propõem aos meus pés e sigo buscando
equilíbrio. A dor um atravessamento de si, vale a pena. Mantenho o passo, movo adelante,
sigo em frente e avante sem medo de percalços, faço dos obstáculos tentáculos
de possibilidades de rota. Às vezes piso rápido sobre pedra tão magnífica que
volto atrás e levo comigo na mão, a aperto contra a palma, sinto toda sua força
magnética vibrar meu sangue adentro, desvendo cada curva com cuidado e tatuo
sua textura na minha pele. Não escolho, elas me escolhem dali, me olham dentro
do olho como todo e qualquer obstáculo e eu viro recíproca verdadeira. Essas
levo comigo, guardo no peito com apreço tudo que me marca. Respeito cada e toda
pedra que a vida me deu, acredito na beleza do que dói, na revolução que tudo
que é difícil gera, aprecio o desconforto das reviravoltas e incertezas, e sei
que se me locomovo pelo coração e razão, os dois de mãos dadas, que se escuto seus
sussurros com atenção, minha rota sempre se adequa e alinha. O dia é lindo e não volta mais.
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