Zelo, zelo, zelo, veio na mensagem aquele dia, ele
parou frente à tela cibernética e assustado, correu parado, lhe faltou palavra,
resposta, ar, se deparou com o que não tinha nem tido nem tinha para dar. Zelo,
que zelo, tá maluca? Eu lá fui zelado para zelar? Mas era ainda cedo e não
sabia, cabia tanto mais em seu peito, resistia, o mundão tinha lhe ensinado
que era cada um por si, olho por olho e dente por dente, andara montanhas e
desertos sem mão para dar. Cresceu
desperdiçado do afeto, foi treinado assim, fecha esse peito, menino, aguenta
pancada, não adianta chorar. No seu play brincava sozinho, dentre saltos de
capoeira e ímpetos musicais, olhava com seus olhos pequeninos mundo para lá de
vasto, milhões de caminhos sem placa, sem indicação, pisava passo pós passo sem saber onde ia dar. E assim o mundo foi lhe adotando, professores, mentores,
mães, irmãs – nenhum pai – foi indo por onde ia, como podia, mochila nas
costas, universo em seu plexo solar. Acordou uma manhã homem grande, mão áspera
de tambor e terra, olhar que penetra mas
não se entrega, sorriso vestígio do infantil - janela para aquele menino
que ainda se resguardava lá dentro. Era assim, inteiro e travado, um passo para
frente dois para trás, desconfiado, não entrava em jogo se não fosse para
ganhar. Acreditava que já havia perdido tudo o que podia, mexe aqui não, não posso
bobear. Enquanto eu de longe olhava, achando que se esquecesse tudo que havia desaprendido e descobrisse o tal do zelar, se depararia com o mais fino de si, lindeza pura, brisa em seu mar.