Zelo, zelo, zelo, veio na mensagem aquele dia, ele
parou frente à tela cibernética e assustado, correu parado, lhe faltou palavra,
resposta, ar, se deparou com o que não tinha nem tido nem tinha para dar. Zelo,
que zelo, tá maluca? Eu lá fui zelado para zelar? Mas era ainda cedo e não
sabia, cabia tanto mais em seu peito, resistia, o mundão tinha lhe ensinado
que era cada um por si, olho por olho e dente por dente, andara montanhas e
desertos sem mão para dar. Cresceu
desperdiçado do afeto, foi treinado assim, fecha esse peito, menino, aguenta
pancada, não adianta chorar. No seu play brincava sozinho, dentre saltos de
capoeira e ímpetos musicais, olhava com seus olhos pequeninos mundo para lá de
vasto, milhões de caminhos sem placa, sem indicação, pisava passo pós passo sem saber onde ia dar. E assim o mundo foi lhe adotando, professores, mentores,
mães, irmãs – nenhum pai – foi indo por onde ia, como podia, mochila nas
costas, universo em seu plexo solar. Acordou uma manhã homem grande, mão áspera
de tambor e terra, olhar que penetra mas
não se entrega, sorriso vestígio do infantil - janela para aquele menino
que ainda se resguardava lá dentro. Era assim, inteiro e travado, um passo para
frente dois para trás, desconfiado, não entrava em jogo se não fosse para
ganhar. Acreditava que já havia perdido tudo o que podia, mexe aqui não, não posso
bobear. Enquanto eu de longe olhava, achando que se esquecesse tudo que havia desaprendido e descobrisse o tal do zelar, se depararia com o mais fino de si, lindeza pura, brisa em seu mar.
Friday, April 26, 2013
Wednesday, April 24, 2013
Inverno
Foi o
arrepio que tocou a real: o inverno chegou, não tem mais cura. A coberta dava
tchau do armário de cima, mundo fora de alcance mesmo da ponta do pé. Me sobrou
só o desejo para acalentar revestimento, te joguei na medula e esperei fazer
efeito, foi menos de 2 segundos, foi mais é de primeira, mesmo arrepio que
desceu o frio subiu de elevador o calor que só de fechar o olho gritava em eco,
pele a fora, corpo a dentro.
Lá fora a
coruja me olhava, fecha as frestas, não custa nada, elimina barulho e corrente
de vento numa cajadada só, mas não, eu preferia frio como álibi de pensamento
teimoso – dos cúmplices o mais sorrateiro, não carecia de aviso nem batida na
porta, vinha com pressa de embalo, entrava pela janela e saia pela culatra. Armadilha só por ser.
Monday, April 22, 2013
A Menina Dança
Olho no
olho, meu rosto afundado no teu, seu cheiro dentro do meu, mergulho em segredo do fundo mais fundo, me agarro com garras, nó de marinheiro, me
empunho em areia movediça, afundo, há fundo, ah fundo... cavo com mãos, dedos,
unhas e dentes, arranho teu profundo, descubro onde começa tua raiz, te rego,
me entrego à seiva de árvore tua, cascalho de madeira dura, madura, compensada em desejos descompensados, repassados em presente que queria
mais ter passado, mais ter te beijado e mergulhado em cada pinta do teu rosto,
à gosto, novembro que te quero ver nu, braços em entrelaços e corpo aberto pro meu
abraço, minhas mãos, meus seios, meu anseio de tudo que esconde por trás desse
sorriso que rasga momento em fragmento de memória viva, que nem água-viva
queimando em silêncio, sem pressa, sem receio e me deixa ali, ardendo sozinha,
corpo que vibra, que pulsa, num impulso de me jogar em saltos mortais
no desfiladeiro do teu escuro, daquilo que você guarda para si e compartilha só
com espelho, reflexo do que cabe em teu plexo mas que se esconde aos olhos
mornos, só compartilha metade do que tá dentro daí, deixa cair, joga para cá,
se põe na minha mira, deixa tudo para lá. Esquece do método, reflexo, formato, modo ou modal do que já foi, faz tudo novo, sem de novo, de outro jeito, sem
trejeito nem subterfugio, sem refúgio, põe na minha roda que a menina dança, vem comigo dançar.
Sunday, April 21, 2013
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