Tuesday, December 19, 2023

Abismo

Se expandir é um exercício de desconforto. Cheguei aqui e precisei me despir de mim para me abrir pro novo. Não é fácil e, ainda assim, é por isso que vim. Me deparo o tempo todo com quem eu era e quem eu posso ser. Do acordar ao dormir me emociono com o que não conheço. Me relembro que vim para conhecer, me desconhecer e reconhecer. Deixei no Rio tudo que sabia, disposta a rachar minha carcaça e buscar o cerne. Sou aqui uma estrangeira para mim e busco o estranhamento justo para me desconcertar. A cada medo que atravesso me descubro mais um pouco. Vejo o abismo e salto. É que a beleza vai além dos olhos. O tal do encanto infantil de ver no simples o extraordinário, de abrir o peito pros encontros com tudo e com cada um. Me rasgo e me cicatrizo. Me fortaleço a cada passo que dou para frente ao invés de correr pro meu próprio colo. Para voar preciso saltar dos tantos desfiladeiros sem saber onde vou encontrar pouso, mas quando aterrizo sinto minhas asas ainda maiores. Não sei o que vai brotar disso, mas já tá dando em tanto que não precisa de mais. Me jogo nesse Rio amazônico tão barroso quanto as certezas e fluo. Quanto mais me quebro, mais inteira fico.