Thursday, November 02, 2023

NadaR no Mar

Uma gaivota planou baixo, rente à superfície. Fitei seus olhos enquanto deslizávamos pela estrada invisível do mar, eu rasgando o verde, ela o azul. Flutuei na dança ondulatória das marés movendo as hélices do corpo em fluxo contínuo, minha pele aos poucos despontando as escamas ancestrais de um passado aquático, a respiração se ajustando à sinfonia de bolhas submersas e eu ali, deixando o movimento ecoar seu impacto no entorno –– ao contrário do ar que, sorrateiro, passeia entre os corpos na sinfonia de seu silêncio. Quando mergulho na imensidão marinha, o tempo se expande sem pressa, meu doce fica salgado, brinco de ser peixe e desperto mais ainda a criança que ainda sou.