Sexta-feira você me olhou diferente, sorriu riso aberto olhando no olho, disse tudo que eu queria ouvir sem nenhuma palavra e atravessamos a rua mais juntos do que até então. Você me segurou pelo pescoço, pelo ombro, pela cintura, me regendo pela calçada na direção do seu caminho. Eu me deixei levar, entregue à sua música, assim como havia previsto a rédea dada. Tinha te reparado ainda de dentro do táxi, calça clara, camisa escura e seu jeito firme de sustentar seu corpo no mundo. Você tem as costas largas do rey da Prússia, eu tenho as costas largas da floresta amazônica, nós dois temos o mar. Nesse encontro de dois (mil) mundos, há tantas costas para gente desvendar. Esse final de semana, pela primeira vez, dormi em teus braços, rolei na grama macia do seu peito em meio a sonhos eróticos e acordei pro tal café da manhã que te contei por escrito. E a gente segue assim, se expandindo juntos, se estranhando e se expandindo mais ainda. Dois polos opostos com o cerne parecido.
Thursday, November 02, 2023
NadaR no Mar
Uma gaivota planou baixo, rente à superfície. Fitei seus olhos enquanto deslizávamos pela estrada invisível do mar, eu rasgando o verde, ela o azul. Flutuei na dança ondulatória das marés movendo as hélices do corpo em fluxo contínuo, minha pele aos poucos despontando as escamas ancestrais de um passado aquático, a respiração se ajustando à sinfonia de bolhas submersas e eu ali, deixando o movimento ecoar seu impacto no entorno –– ao contrário do ar que, sorrateiro, passeia entre os corpos na sinfonia de seu silêncio. Quando mergulho na imensidão marinha, o tempo se expande sem pressa, meu doce fica salgado, brinco de ser peixe e desperto mais ainda a criança que ainda sou.
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