Sair
do Leblon me privou das conversas acidentais com meu grupo de coroas
favoritos, digo conversa deles porque eu fico só de ouvinte na mesa ao
lado, disfarçando num jornal sem graça meu interesse pelo papo alheio.
Um ano e meio passou e mais ainda para eles. O Décio continua popular e
controverso, vestido de tenista mas agora sem a raquete, a voz
evidentemente mais rouca, falhando, mas ainda performático, despejando
sua gama extensa de palavrões enquanto conta suas aventuras
joviais. O Coronel permanece quieto, se mantém recostando na cadeira,
barriga e Rayban, fazendo raras incisões de sarcasmo e poderio. O
Ronaldo apareceu empurrado por enfermeiro em uma cadeira de rodas, e sem
a companhia de sua cadela pug, Juliana Paes, morreu de velhice eu ouvi,
mas pelo menos ele parece ter passado a ser mais festejado do que
zoado, deve ser medo de destino similar. Dr. Paulo trouxe a esposa Beth,
eu nunca tinha visto uma mulher sentada na mesa deles, ela foi embora
entre risos e enxotadas logo que cheguei na mesa ao lado e não deu cinco
minutos o Dr. Paulo começou a falar do nível de "vagabundice" das
passantes mais voluptuosas. Hoje eles não beberam café, só água tônica
ou gasosa Perrier, mas falaram das tantas mesmas coisas, brigas do
condomínio, gostosas do clube, problemas dos filhos, se zoaram sobre
velhice e morte e gargalharam das piadas do Décio. Hoje sentei ao lado
deles e pensei que o tempo passa sem parar de ser ingrato, será que eles
também veem que eu mudei?