O dia
amanheceu anuviado, vento de lado em crista de onda, corrente puxando pro sul. Ainda era cedo às seis mas não sobrava azul, só cinza do peito para fora, cinzas céu adentro. Hoje de manhã só vi rosto
triste pela rua, velhos calados com suas enfermeiras, casais sem mão dada,
criança birrenta dentre pedras portuguesas, atleta com frio demais para entrar
na água. Hoje ninguém se jogou na manhã sem peso que engole, cada um afogado em
solidão e pão na chapa, tristeza ecoando pelas esquinas de Copacabana, Ipanema,
Leblon, orla inundada em angústia e mágoa.
E não ouvi passarinho nenhum, nem gaivota veio dançar com o ar, só uns
pombinhos cagando baldes em cabeças cheias de vazio. Hoje de manhã o ar estava
quente e o dia transbordando desamparo, jornal esvoaçava notícias ao léo,
bicicleta sem roda parada no poste abandonada, nem o café quente calou o frio, quem
se importa, o que importa, enquanto o sol não vem, melhor guardar dia para
madrugada.
Enquanto
isso, galáxia a fora,
Ontem a lua
deitada grávida sussurrou para noite sonhos longos, estrelas cadentes rolando
em suas bochechas, contou pros sete ventos histórias de noites escuras, longas
demais, noites que insistiam em não amanhecer, seguravam o sol pela rédea,
preso em armadilha pro dia, não haveria tarde, só noites em seu gradual do azul
escurecendo universo adentro, buraco negro. Ontem a noite a lua amarela gritou
pros quatro cantos em silêncio, falou com meteoros, galáxias siderais, anéis
planetários segredos intergalácticos que só ela guardava dos dias em que
esperava o sol descer para subir, e todo mundo ouviu em meio a universo
estático, parado em suspenso por um, dois, milhões de segundos perdidos letra a
letra desperdiçada boca a fora daquela lua agora cinzenta, em meio a uma única
nuvem fina, quase cenográfica, quem botou você ai? Gritaram lá do fundo. E o
dia amarrado, pulsava ansioso por vir a tona rosa, amarelo, laranja, rasgar o
céu a fora, correr pro abraço, esbanjar verde e azul em cada mar, banhar as
montanhas com luz, dar sombra de presente para árvore. Não era tarde, já vinha
a tarde, mais tarde, era só questão de tempo.