Patela, acrômio, dedão do pé, bando de osso quebrado. Ele era assim, dividido em parcelas; retalho de cicatrizes veladas e vontades inversas. Dizia que não gostava das próprias marcas, não andava se gostando – estava tão quebrado quanto o talo de seus certos ossos. Era é viciado em sabotagem. Afligido por uma imensa teimosia, insistia em confundir integridade com essência, e assim achava que suas margens eram limites – nada fora daquilo cabia. Resistia ao que ainda não havia descoberto de si, achava que já sabia. Mas não, ainda não havia palpado o entendimento do que podia vir a ser se deixasse ser. Pensava demais, mais do que devia. Tinha receio de se perder no escuro de seu próprio desejo; mais fácil mudar de rota do que seguir em frente, mais fácil escapar, não mais voltar, só para tropeçar na mesma pedra mais a frente, e repetir tudo de novo, num ciclo que não se recicla, tão insustentável quanto o preço do bambu como matéria prima de sonho. É mais fácil fugir do que ficar. E no tal balde que tanto considerava chutar, balde de água mais para quente do que fria, sonho nadava em nuvem, onda à beira de se esparramar pela cozinha do apartamento provisório – não tinha mais onde morar. Insistia em se trancar no silêncio de sua dor, sua solidão, persistia em esconder segredo do próprio peito, sem saber que tudo transbordava no olhar. Era só olhar, estava tudo ali, tão claro, tão transparente em cada palavra, que era mesmo surpresa que a contradição em seu discurso não ecoasse em seus cantos. Andava desencantado, boneco quebrado, sem corda para dar.
Monday, October 15, 2012
Batata
Uma batata
da perna diz muito sobre um homem. Seja de joelho de fora, ou debaixo de pano
fino, grosso, bermudão, uma batata da
perna revela toda uma leitura de personagem, como se aquele vestígio de
estrutura sozinho expusesse a virilidade do corpo que sustenta – virilidade e
fragilidade se arregaçam em uma batata da perna. Se olhadas com cuidado, com
atenção de curioso, pode-se fechar os olhos e adivinhar a firmeza do corpo acima.
Uma batata da perna revela a força potencial da possível pegada, desde o aperto
de mão a uma agarrada, desde a leveza de um carinho ao peso de uma porrada, uma
batata da perna tem tendência a incitar o imaginário de um feminino mais atento
aos detalhes, detalhes como os dedos da mão, como a mão toda, sozinha, de tamanho à espessura, textura,
formato de cada unha, antebraço, aliás são poucas as mulheres que não gostam de
antebraço, abraço e tantas outras rimas óbvias. Pegada também não esconde
segredo, uma agarrada de leve, um aperto à la massage, um carinho de supetão
revelam mais do o que dissimula. O que existe por trás de um carinho espontâneo
e incontrolável? De carinho que escapa do pensamento e se materializa na pele
do outro, como um soluço irreprimível, afeto espontâneo e imparável? O que se
descobre em um pé, no formato do que liga um homem à terra, que abrange em
superfície, se estatela e sustenta todo um edifício de um masculino, cada pé
uma batata, um edifício, uma identidade.
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