Um dia bati de cara com meu reflexo
Me deparei comigo
Rosto que quase desconheço
Hoje acordei e deixei meu rosto no espelho
Lá estatelado
Olhando para mim sem piscar
Bifurcou
A língua mudou
O tempo
A paisagem
O povo
A cara, a minha cara
Sou eu americanizada
Pertencida de Pátria
E invadida de Metrópole
Sou eu ornamentada de vermelho, azul e branco
Ando passagem no trânsito
Dizendo “Hi, how are you?” para estranho
E tremendo de saudade da bola na areia de Ipanema
Sou Brasileira
Sou filha da minha pátria amada
Que daqui, olhando de longe
Me convenço de que é só um mais traçinho no mapa
Fiquei desapegada
Puro fingimento
Evitando cutucar ferida aberta
Deixando lembrança quietinha em encruzilhada de mim
Dormindo sono de Cinderela que morre de medo de ser acordada
Sou filha dessa terceira cultura
Mistura de pandeiro com bate estaca
Salada interplanetária de valores e estereótipos
Mas não sou estereotipo nenhum
Sou única e singular
Ainda surpresa com essa ferida exposta
Essa mulher dragão que encara o mundo
Com alma órfã de Irmãos Coragem
E agora me olhando dessa perspectiva reaberta
Vejo um eu todo novo
E grito alto mais uma vez
PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER
Desci
Agora segura as pontas aí
Que lá vem eu
Dessa vez nadando com a corrente