Há cinco
semanas eu não ligo o rádio do carro, sigo em riste, mão no volante, olhos
vidrados no trânsito, seu rosto clicando em flashes na minha frente, eu ainda
sonhando – sou muito mais pensar em você. Sei cada detalhe dos seus detalhes, quantos
fios tem o teu cabelo, quantos cílios moram nos teus olhos, quantos pelos vivem
na sua sobrancelha. Sei cada imperfeição dos seus dentes, cada riacho que corre
nas mil linhas da tua boca, e cada sua montanha, onda, penhasco – e não sei nem
nada ainda, nem comecei.
Eu sei bem também
das nossas diferenças desde daquela segunda tarde, não só o que você me contou,
que já bateu, já doeu, já não doeu, e se dissolveu na relevância do que
realmente importa, mas sei também do que mora além das palavras, no nosso
silêncio, as coisas que não precisam ser ditas para serem notadas. Sei do mundo
que te escolheu e do que você escolheu para si, desse abismo entre nossas
ambições. Você diz para não pensarmos sobre isso enquanto põe o tema sobre a
mesa de jantar, você diz para vivermos no presente enquanto quem questiona o nosso
longo prazo são essas sinapses dentro da sua cabeça grande, você diz que não
quer viver a mesma história enquanto ensaia a mesma discussão antiga com uma
mulher nova, as vezes parece que você fica se convencendo que é de menos para
nós dois, e sem perceber, deu para tentar me convencer. Para vai. Por Favor. Para
tudo. Eu sei de tudo isso, claro que sei, sei de tudo tanto e nada tanto
importa.
Eu te
escolho além das nossas escolhas, escolho por que você me faz feliz, porque
você me acolhe, e me faz ser mais terna, mais calma, é tão doce isso tudo que
me faz querer compartilhar meu dia a dia contigo, minha vida, até minha comida!
E bem na mentalidade do drogado “só por hoje”, deixa o futuro pros adivinhos e
me faz feliz só essa manhã, só essa tarde, só essa noite e a gente vai assim,
dia após dia, escolhendo um ao outro para o resto dos dias. O resto é resto.