Se
descontruiu em 10 segundos, se quebrou em cacos, mil pedaços de nós dois na
lama do chão do sambão. Foi sem querer, eu sei, ato mal calculado ecoado em
afeto-efeito dominó, pirâmide de cartas embaralhadas demais, confusas, perdidas
dentre si. Certos pactos são tácitos – ao compartilhar o fato, você cruzou a linha
tênue do o que se preserva sem ser dito, não percebeu que apesar de tanto nosso
ser de tantos, aquilo era só de nós dois, fetiche velado gerado no escuro da
nossa nudez. Aquele pequeno detalhe era marco de um nosso segredo, à parte de
toda amizade, acima de outras promiscuidade maiores ou menores, tínhamos ali
uma gota inesperada de um sublime que só brota no raro, muito de quando em vez.
Botou na roda, fez do nosso um truque a mais, mais um, qualquer um, qualquer
uma. E sim, de fato dramática, se não trágica essa descrição, mas a verdade é
que nem eu sabia o peso que tinha uma frase à deriva dentre tantas, duas
palavras que separadas, ou até juntas, não necessariamente surtam o efeito da
entrega no leito que aquele sussurro naquele momento gerou, sussurro que da tua
boca correu por todo meu sangue, cada veia, cada canto, deixando rastro do que
não se escolhe nem se controla, deixando tudo à tona, à prova, naquele momento
nada mais podia ser só meu se não nosso, momento suspenso no ar, paralelo aos nossos tratos, nossas distâncias e proximidades, nosso tesão ou amizade, ali
brotava uma pérola negra dentre tanto grão de areia, ali todo meu
egoísmo correu por água abaixo e não me restou nada se não te entregar tudo,
compartilhar, deixar para ti as rédeas do meu gosto, meu corpo, meu todo. Fui inteiramente
sua pela primeira e última vez e não sabíamos, ah se soubéssemos...
Mas é assim
mesmo, o mais importante não se dilui em mar de desejos latentes e desencantos
acidentais, sobra para gente o que não se dissipa tão rápido quanto ímpetos
menores, tenho contigo vontades maiores de crescer juntos, de ir pro alto e
avante, independente de tesão inconstante, ou de sacanagem de fim de night. Não
fica chateado que algo quebrou, as coisas mudam sempre mesmo, mas você continua
aqui em meu peito, homem melhor amigo que sem pensar me faz querer compartilhar
todas e cada rota que se forma sob o céu que nos protege, sobre esses nossos
pés que se jogam no mundo à passos largos e desejos as vezes curtos demais. Me
dá a mão e bola para frente - mas o cu tadinho, ficou para traz, literalmente.